O que acontece no teu cérebro quando prestas atenção?

Prestar atenção a algo torna-se difícil num mundo em que a nossa atenção é constantemente estimulada por estímulos visuais ou auditivos desenhados para o efeito. Os chamativos cartazes espalhados pelas ruas ou a música de fundo dos transportes públicos são algumas das razões pelas 
quais se torna tão difícil conseguir não desviar a atenção das nossas tarefas. Em relação a esta temática, a neurociência define duas formas de prestar atenção:

- over attention - moves os teus olhos para algo com o intuito de prestar atenção
- cover attention - prestas atenção a algo sem mover os olhos

Conforme o tipo de "atenção", é possível observar diferentes padrões de atividade no cérebro humano utilizando modelos de neurociência computacional. Neste âmbito, a cover attention é um modelo muito interessante pois permite que a nossa atenção mude apenas com a alteração dos padrões cerebrais sem ser necessário mover os olhos. Numa experiência para estudar estas formas de prestar atenção, foram colocadas duas luzes a cintilar a diferentes velocidades na frente de voluntários. 

Esquema da experiência: O smile representa os voluntários e os quadrados representam as luzes a piscar

Sabia-se previamente que certas partes do cérebro iriam começar a 'piscar' da mesma forma que a luz a que se estivesse a prestar atenção; analisando o cérebro esperava-se conseguir detetar qual seria a luz em que os sujeitos estavam focados. Assim, pretendia-se apurar se os sinais cerebrais poderiam indicar o tipo de prestar atenção.

Foi pedido aos voluntários para olharem para uma das luzes e focarem a sua atenção nessa mesma luz. Nesta vertente, os sinais cerebrais que correspondiam à luz a piscar localizavam-se na parte   proximal da região occipital responsável pelo processamento de sinais visuais.

Seguidamente os voluntários foram desafiados a olhar para o espaço entre as luzes e concentrar-se numa à escolha (sem mover os olhos). O verificado foi que ambas as taxas de cintilação estavam presentes, no entanto, uma delas criava um 'sinal cerebral' mais forte, correspondente certamente ao padrão de cintilação seguido pelo sujeito envolvido na experiência. Uma zona do cérebro encontrava-se a amplificar esse sinal em detrimento da luz não escolhida e, essa zona, é o lobo frontal.

Analisando os resultados, podemos referir que no primeiro caso, ao ser usada a over attention, o processamento dos estímulos exteriores aos quais prestamos atenção é realizado pela mesma região cerebral que processa os sinais visuais. Na situação seguinte, os voluntários usaram a cover attention, concentrando-se numa luz sem mover os olhos. Para isto ser possível, é necessária a ação do lobo frontal que funciona como um filtro, deixando entrar a informação da luz escolhida e tentando inibir a informação da luz ignorada. A capacidade de filtragem do cérebro é uma chave para a atenção. A ausência desta capacidade origina Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em que os indivíduos não conseguem inibir as distrações e, consequentemente, não se conseguem concentrar muito tempo numa só tarefa.

Nesta experiência, foi possível correlacionar o estudo dos padrões cerebrais com a forma de prestar atenção; haverá uma forma de usar estes resultados de forma terapêutica? A neurociência computacional encara estas questões de frente e procura formas de as contornar; E se pudéssemos criar um jogo de computador (conectado ao cérebro do indivíduo) desenhado especificamente para treinar a inibição dos estímulos distratores? As interfaces cognitivas cérebro-máquina estão cada vez mais perto de se tornarem uma possibilidade nestas questões e em muitas outras... E se pudéssemos encontrar uma máquina que falasse por pessoas que perderam essa capacidade? Se conseguíssemos encontrar os padrões cerebrais que correspondem à letra A, à letra B, e assim sucessivamente... poderiam os computadores falar pelas pessoas que não podem? E se um computador nos ajudar a entender os pensamentos de uma pessoa em coma? Ainda não chegámos lá, mas em breve.



Texto baseado no trabalho do neurocientista Medhi Ordikhani-Seyedlar (https://www.ted.com/talks/)


Fontes adicionais:
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade


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